"Não é hora de rebeldia"

"O PT tem regras que devem ser cumpridas por todos, do Lula ao mais recente filiado. Não é hora de rebeldias". Assim reagiu a deputada Iriny Lopes às declarações do prefeito de Vitória, João Coser, de que vai continuar o trabalho de articulação política em favor da candidatura de Ricardo Ferraço (PMDB) a governador do Estado, postura condenada em resolução do PT nacional, nessa quinta-feira (3).

Uma das autoras do requerimento à Nacional contra a decisão do PT capixaba de apoiar Ricardo Ferraço, ela acredita que seria prudente Coser reconhecer as regras do partido para que o trabalho de debates internos possa acontecer dentro do calendário estabelecido pelo partido.

Ou seja, o PT capixaba deverá se enquadrar no processo que vem acontecendo em todos os outros estados e deixar a decisão sobre apoios para depois do dia 21 de fevereiro do próximo ano. "É preciso que a militância se posicione, o partido precisa conversar internamente sobre a eleição nacional e sobre os caminhos no Espírito Santo. Depois disso, eleger seus delegados para o encontro do partido no próximo ano, dentro de um calendário pré-estabelecido. Não há por que conversar com um único partido neste momento", disse a deputada.

Sobre a decisão da Câmara de Recursos do Diretório Nacional do PT em anular a resolução do PT capixaba de apoio à candidatura do peemedebista, a parlamentar disse que não esperava outra postura e que simplesmente foram cumpridas as regras do partido.

"E esta decisão do PT Nacional não é letra morta, não. Deve ser respeitada. A partir de agora vamos buscar espaço nas articulações, vamos discutir os nomes que o PT pode apresentar tanto na majoritária quanto na proporcional. Não é verdade que o PT não tenha nomes ao Senado. Tem sim, e bons quadros", garantiu.

Sobre as negociações que já estavam sendo encaminhadas pelo prefeito de Vitória, como a indicação do vice na chapa de Ricardo, Iriny disse que esta é uma estratégia de uma parte do partido e não do conjunto dele. O PT pode até seguir este caminho, mas isto precisa ser discutido com a militância, ponderou.

"Esta posição não é prudente. O João é fundador do partido, conhece as regras do partido e precisa reconhecer estas regras do diálogo interno", lembrou a parlamentar, que espera ver o correligionário voltando atrás na decisão de continuar trabalhando em favor da candidatura de Ricardo. Caso isso não aconteça, o grupo que fez o requerimento poderá se reunir e analisar as providências a serem tomadas contra as normas do partido.

Cenário

Nos meios políticos, as declarações do prefeito de Vitória foram vistas como uma manifestação baseada na certeza de que o grupo dele vencerá a eleição interna do PT capixaba. Coser tem dado o tom de direção ao partido, por meio do atual presidente, Givaldo Vieira, liderança ligada a ele.

A decisão do PT nacional, porém, vai racionalizar o pleito. Se por um lado Givaldo vai defender a postura do prefeito de participar do palanque de Ricardo Ferraço, um dos requerentes do recurso contra a resolução do PT capixaba é Perly Cipriano, candidato do grupo lulista à presidência do partido no Estado.

Com a decisão, Perly ganhou capital político dentro do partido e a decisão de jogar a decisão para dentro da sigla escancara a eleição partidária e divide os votos da militância. Se por um lado os candidatos Givaldo e Tarciso Vargas uniram forças, nada impede que Perly e o candidato da "Articulação de Esquerda", José Otávio Baioco possam se unir e mudar o cenário da eleição.

Se internamente a decisão do PT nacional acirrou a disputa pela presidência do partido no Estado, externamente o maior prejudicado foi o vice-governador Ricardo Ferraço. Ele enfrentou neste episódio uma artilharia até então desconhecida pelo grupo e pode perder seu principal emissário político. Embora Coser domine o diretório e possa reafirmar a posição tomada anteriormente, não vai conseguir evitar que o partido discuta a eleição.

Outra articulação que fica em risco é a costura feita por Coser para colar Givaldo na vice de Ricardo. Isto garantiria o lugar do prefeito de Vitória na sucessão de Ricardo Ferraço, em 2014. Influenciaria também na eleição proporcional, já que em contrapartida pela vaga na vice a estratégia do PMDB seria forçar o PT a fechar uma coligação com o partido do vice-governador.

O acordo seria prejudicial ao PT, sobretudo na eleição para a Câmara dos Deputados, já que o PMDB tem a maior bancada e os melhores quadros na disputa do próximo ano. Com isso, a intenção do PT de aumentar a bancada seria frustrada e o partido conseguiria, no máximo, manter a única vaga que ocupa hoje na bancada, a da deputada Iriny Lopes.

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