Pão e circo

Caetano Roque

O tema do momento são as 40 horas semanais. Não precisa ser muito inteligente para ver que reduzindo a jornada de trabalho aumenta a oferta de empregos. Isto teria que ser a grande reflexão do 1° de Maio, que teve um dia de festa na praia de Camburi, patrocinada pela CUT, e outra no Pavilhão de Exposição da Serra, patrocinada pela Força Sindical.

Os dois movimentos não tiveram a divulgação merecida para que o trabalhador tomasse ciência das festividades e pudesse escolher a qual delas iria. Mas o que chamou mesmo a atenção foi o fato de 90% dos presentes serem jovens desempregados.

Um contingente de trabalhadores em potencial levados ao evento não pela simbologia da data ou pela reflexão, mas pelas atrações artísticas nacionais trazidas para o evento, chegando ao ponto de, no evento da CUT, os oradores, nas suas falações, preferirem agradecer ao público pela presença no show e não no ato público.

No fundo estavam certos, afinal não houve ato público e sim festa, com direito a distribuição de marmitex para os presentes. O que foi no passado uma data sempre marcada pelas grandes marchas, pelos atos de protesto por melhorias de condições de trabalho ou representação política, hoje nada mais é do que uma forma de encher o bolso dos artistas de dinheiro e ajudar a aumentar a alienação do trabalhador. Afinal, no quê Calcinha Preta ou Alexandre Pires têm a acrescentar à luta de classes no Brasil?

Voltando à questão da redução das horas semanais, apenas uma faixa solitária, em cima do palanque da CUT, fazia uma referência ao tema do 1° de Maio. Se eles usassem aquele espaço e a estrutura para colocar aos presentes a pauta de reivindicação, ainda dava para engolir. Mas os discursos também foram de pão e circo.

Muito me admira o prefeito de Vitória, ex-presidente da CUT e do Sindicato dos Comerciários, sindicato que hoje comanda novamente a Central, com um discurso frouxo. Mas ele não foi o único, as lideranças lá presentes se preocuparam mais em destacar a atração musical do que fazer um discurso agregador.

O cenário era ótimo para um trabalho de preparação dos novos no mercado de trabalho para a luta de classes. Mas tudo ficou no circo e no pão. O que me consola é que as correntes de pensamento de esquerda, dentro do partido criado pelo movimento sindical, o PT, para enfrentar a luta de classes, se dividiram. Se há aqueles que se guindaram ao sistema opressor, ainda há aqueles que resistem. Nesta divisão sobrou uma parcela, que se um dia voltar ao comando poderá retomar a luta de classe conscientemente.

Esperamos que nos próximos movimentos os dirigentes se preparem para direcionar o encontro, para decidir o que querem com os atos públicos e se prepararem melhor.

Não se faz política como antigamente!

Coluna do seculodiario

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